Dupla Identidade (2014): A Corrosão em Série dos Aparelhos Estatais

A série Dupla Identidade foi exibida pela Rede Globo de 19 de setembro a 19 de dezembro de 2014. A sua única temporada conta com treze episódios escritos por Glória Perez e a direção geral de René Sampaio e Mauro Mendonça Filho. A trama é sobre os homicídios em série cometidos por Eduardo Borges (Bruno Gagliasso), que resultaram na criação da equipe policial de investigação sob o comando do delegado Alexandre Dias (Marcelo Novaes). Pela pressão pública cobrando a resolução do caso, Vera Müller (Luana Piovani), autora de livros sobre serial killers e psicóloga forense, é apontada pelo governador para auxiliar com a sua experiência adquirida no FBI. Paralelamente, Eduardo trabalha como advogado no gabinete do senador Otto Veiga (Aderbal Freire Filho) e tem a meta de escalar os degraus da carreira política, tornando-se, a curto prazo, o seu suplente. Enquanto buscava relatórios sobre os crimes na delegacia de polícia a mando do senador, Edu conhece Rayane Gurgel (Débora Falabella), uma mulher que havia trabalhado com uma das vítimas. A partir daí, a estória o acompanha em meio aos assassinatos, o seu relacionamento conturbado com a namorada e seu perverso jogo de gato e rato com a equipe de policiais[1].

Quanto ao aspectos técnicos, a série apresenta boa direção, um departamento de arte afiado e uma fotografia instigante. A imagem típica do Rio de Janeiro, de sol, calor e praias é posta de lado para nos apresentar uma cidade sombria e soturna, o cenário perfeito para a macabra realidade onde a trama será desencadeada. A frieza[2] com que Edu conduz seus crimes transborda pelas cenas, invadindo o psicológico e congelando as emoções tanto dos demais personagens quanto do público. Logo, não há momentos de alegria, prazeres leves e sorrisos, apenas o mal-estar e o sofrimento de uma caçada a um homem implacável e doente que deixa um rastro de dor e agonia pelo caminho. As atuações de Bruno Gagliasso e Débora Falabella estão impecáveis. A série foi muito bem-sucedida ao expor, do lado dele, o descaso e a indiferença de um psicopata perante uma relação vazia; e do lado dela, as expectativas frustradas de uma mulher sensível e frágil, que subitamente se vê namorando um potencial assassino (a performance de alta qualidade de ambos fica evidente diante dos prêmios conquistados). A trilha sonora completa este quadro lúgubre ao introduzir músicas do Sepultura para nos aproximar da mente do protagonista e nos ajudar a “revelar a verdadeira alma de cada um[3]“.

A estrutura dramática repousa sobre o gênero clássico do drama policial e alguns temperos brasileiros foram adicionados para entregar uma obra com boas emoções. Há dois núcleos principais, o grupo de investigação da polícia e Edu. Ambos movimentam-se e alavancam a trama a partir dos avanços do outro, formando uma conexão dramática simbiótica. A princípio, pela constituição do gênero, os protagonistas deveriam ser os policiais, no entanto, a série inverte essas funções e transforma o enredo na ascensão sociopolítica de Edu, relegando o papel ideológico de antagonista ao delegado e à sua equipe. Em relação à sua composição, há uma grande quantidade de cenas confusas, impertinentes e/ou inverossímeis, ora resolvidas às pressas e de maneira leviana, ora deixadas de lado, incorrendo no grave erro de esquecer personagens e objetos-chave[4]. Seja pela experiência da autora em telenovelas (onde há incessantes exposições a cada capítulo), seja pela dificuldade natural do gênero, os diálogos contêm explicações desnecessárias ou intenções e falas absurdas, tornando o seu desenvolvimento dramático artificial e bastante plástico. Além disso, os personagens parecem tomar conhecimento do universo narrativo ao adentrar o horizonte diegético pela primeira vez, como se estivessem conhecendo aquele mundo ao mesmo tempo que os telespectadores, quando, na verdade, as suas ações deveriam ser condizentes com as relações prévias construídas para eles (e as relações deles com o espaço da realidade interna da narrativa).

Como uma visão geral, a série retrata uma profunda descrença nos aparelhos de Estado: a força policial, a figura política do senador e o sistema judiciário. Todos são apresentados como incompetentes, corruptos e despreparados para lidar com a super genialidade e a materialização ideológica do protagonista-divino[5]. Diante disso, o seu aporte em relação às instituições do Estado é de extremo exagero negativo, deturpando as suas práticas e áreas de competência por meio de construções poderosas capazes de corroer quaisquer imagens positivas. Em outras palavras, o Estado está em frangalhos e os seus aparelhos, quebrados e obsoletos, transmitindo a sensação de que não se pode tentar mudar aquilo que não tem conserto e que, portanto, a única saída é destruí-lo. A análise iniciará pela “exaltação neoliberal[6]” de Edu, cujas dimensões ideológicas e ações procuram gerar valor e aceitação para a sua imagem. Em seguida, discutirei o embate entre o protagonista e os aparelhos estatais a partir de três exemplos que reforçam as visões perniciosas sobre o Estado. O resultado é uma pintura desanimadora e pessimista em relação às suas condutas burocráticas, jurídicas e políticas.

Inicialmente, nota-se que Edu representa o ideal do Self-made man, ou seja, o homem que conquista o seu sucesso e destaque por conta dos próprios esforços, o jovem implacável, dotado de qualidades e inteligência superior que desafia as normas impostas e atinge a vitória por mérito individual. Sua trajetória biográfica revela um rapaz que veio dos Estados Unidos para o Brasil, estudou e formou-se em Direito e Psicologia, conseguiu se integrar à equipe de advogados do senador e fazê-lo acreditar que estava diante de seu sucessor na carreira política. Tudo feito por conta própria, sem a ajuda de ninguém (isto fica evidente pela ausência de amigos de Edu). Para funcionar como estandarte neoliberal, Edu precisava se apoiar na ideia enganosa de que ele se trata do único sistema que funciona. Por isso, não chega a ser surpresa que seus adversários, tanto aqueles no percurso de sua glória individual na carreira política quanto os que desejam vê-lo atrás das grades, sejam retratados como incompetentes, desonestos e despreparados para lidar com a mente brilhante de um homem e seu ideal imbatível. Atuando sozinho, Edu consegue enfrentar, derrubar e corroer todas as instituições e indivíduos que ousam invadir o seu caminho. Nada e ninguém consegue pará-lo, ele está sempre à frente, traçando estratégias e antevendo as situações para anular os efeitos indesejados. Apesar de capturado, a sua vitória se deve à sua bem-sucedida missão de destroçar o Estado, fazendo-o parecer incapaz de atender aos problemas do país.

Em plena sintonia com o seu discurso político, Edu representa também o novo frente à destruição do velho, a energia brutal que precisa aniquilar depressa o antigo, o tradicional, o conservadorismo arcaico[7]. Todos os personagens de mais idade, sem exceção, são destruídos e/ou seduzidos pela mente perspicaz e afiada de um jovem em rota de colisão com as estruturas, normas e valores ultrapassados da sociedade. O fato de Edu matar suas vítimas não chega a danificar a imagem neoliberal que ele intenciona resplandecer, pois as ações que participam da sua ascensão profissional, social e política (em paralelo aos seus efeitos destrutivos), não ocorrem por causa ou por consequência dessas mortes, salvo pela defenestração de Ivan[8]. A série evidencia que a sua condição é patológica, portanto, ele está blindado contra juízos de valor. As ideias subjacentes aos seus pensamentos e à sua efetiva ação de mobilização neoliberal podem ser desveladas ao separar Edu em seus dois poderosos arquétipos, o seu duplo viés ideológico: o do herói que ativa certos mecanismos de sujeição para disseminar um discurso político que julga restabelecer o equilíbrio das relações sociais por meio da urgente redução da influência estatal; e o rebelde, cujo conjunto de qualidades é minuciosamente construído para ele despejar os seus raios corrosivos nas estruturas antiquadas e se auto-evidenciar como nova força política. Isto posto, irei destrinchar cada um destes elementos em meio às suas relações com a força policial, com o senador e com o sistema jurídico.

O delegado Dias, à frente do grupo de investigação da força policial, ocupa uma posição de liderança na sua equipe “elite” (segundo as suas palavras), porém, ele se apresenta como um homem perdido, inseguro, despreparado para a função. Sua relação com Vera é de desprezo pelo seu conhecimento adquirido no FBI, um sentimento que contagia os demais membros do grupo[9]. Diante de uma série de assassinatos dos quais a sua equipe não possui nenhuma pista, a presença dela (apontada pelo governador para o cargo), em vez de celebrada e bem-vinda como um auxílio extra, é tratada como um grande empecilho. É senso comum que ainda hoje as mulheres sofrem preconceitos no ambiente de trabalho e precisam constantemente provar o seu valor perante os homens, sobretudo em um ambiente masculinizado como o de uma delegacia de polícia. Assim, o que poderia se tornar uma crítica contundente, infelizmente, faz com que essa visão misógina adquira força, pois a própria personagem sustenta este pensamento. Apesar de estar correta nas suas observações sobre Edu e de ter sido a primeira a desconfiar dele, Vera em nada se aproxima da imagem de uma especialista desse campo, cuja lógica e argumentos deveriam impor respeito sobre os que nada dominam sobre o assunto. A impressão é a de que com ou sem Vera, os resultados seriam os mesmos. Além disso, quando as primeiras provas dos crimes começam a surgir, três eventos, ocorridos num breve intervalo, evidenciam a incompetência e o quadro caótico da delegacia: a equipe encontra o celular de uma das vítimas no apartamento do filho do senador, onde ficou comprovado que o político passara a noite com ela; o ex-noivo de outra vítima encontra o isqueiro de Edu, futuro suplente do senador, no local onde ela fora raptada; e Ivan, um dos funcionários do senador, cai do terraço de um prédio durante um coquetel, onde ele e Edu discutiam sozinhos momentos antes da queda, e ninguém desconfiou ou iniciou uma investigação para apurar se o fato constituía-se mesmo um suicídio.

Ao observá-las em conjunto, chega a ser espantoso que o delegado seja incapaz de montar as peças, que nenhuma suspeita fora levantada e absolutamente nada foi feito diante dessas informações. Quando descobrem quem era o dono do isqueiro, os policiais levantam um relatório sobre a vida de Edu, onde estavam declarados sua profissão, sua educação e o trabalho voluntário no GAV[10]. Porém, tão logo Edu mostrou um B.O sobre um falso roubo de documentos e do isqueiro, o delegado deixou de considerar o objeto como uma prova válida e digna de investigação, mesmo quando outras situações continuavam apontando para Edu como culpado: o “suicídio” de Ivan (ele era o único na companhia do rapaz na cobertura do hotel, mas o que se percebe é que, para esta equipe de policiais, basta alegar que uma pessoa estava alterada e nervosa antes de cair de um prédio que, aparentemente, todos aquiescem como suicídio e arquivam o caso). E, ainda por cima, a mando do senador, Edu integrou a equipe para que pudesse “acompanhar” as investigações. A inépcia de Dias e dos policiais não se encerra por aí, há outros exemplos: quando Ray denuncia Edu como o assassino, eles são incapazes de voltar a considerar as provas anteriores e estabelecer uma conexão; quando eles encontram um pedaço do bastão de beisebol sujo de sangue na casa de Edu, Dias o leva para mostrar ao senador, mas acaba se distraindo e a esposa do político queima a prova principal; quando Edu foge da prisão com Vera de refém, não houve um policial designado para persegui-los, entre outros menores. Diante de tantos exemplos reproduzindo uma gestão estratégica limitada e ineficiente por parte da polícia, como não se resignar ou enfrentar o medo perante à fraqueza dessa segurança pública? Não é à toa que a intervenção do FBI tenha sido conduzida como “um sopro de alívio”, pois quando eles retiram Edu dos tribunais brasileiros e Vera expressa o absurdo de considerar a pena de morte[11] como uma lei válida, a série anula o último resquício de crença no sistema brasileiro.

A relação do senador Otto Veiga com Edu carrega efeitos destrutivos de igual intensidade. Inicialmente, há um detalhe na narrativa que deveria ter sido revisado antes das filmagens, pois inviabiliza a sua estrutura dramática. Assim que Edu fosse cogitado para ser o seu suplente, o seu histórico de vida seria varrido minuciosamente. Com isso, não seria difícil descobrir que ele morara na Flórida e era procurado pelo FBI (mesmo que pelo outro nome, Brian[12]). Afinal, é perfeitamente razoável e lógico esperar que qualquer candidato a uma vaga de suplente seja de inteira confiança do senador ou do partido, sobretudo, quando se trata de um político envolvido em esquemas ilegais e de corrupção. Todavia, não é o que a série retratou, pois no mesmo dia que Edu apresentara seu plano de combate ao estupro e ganhara a atenção do senador, o mesmo virou-se para ele e lhe disse que o considerava um filho (a relação era distante entre os dois). Assim, afora as emoções individuais de um homem solitário, as quais não estão em análise, é a partir desse alicerce emocional que mais eventos absurdos reforçam a corrosão estatal.

O próprio apontamento de Edu como suplente, quando o senador percebe a sua candidatura em ruína, pode ser indicado como uma decisão tola[13]. Mesmo que não haja nada que o impeça de apostar na capacidade profissional do jovem, que figura pública continua se associando a uma pessoa cujas provas apontam para o seu envolvimento em atos criminosos? Em uma cena, o senador relembra a Dias que eles são amigos há dez anos e que sua posição de secretário de segurança se devia a ele. Então, quando Dias lhe mostrou o pedaço do taco de beisebol com sangue e fez um apelo para que o amigo desligasse o seu nome dessa relação, por que ele seguiu teimando na inocência de Edu? Qual seria o problema em afastá-lo até que o caso fosse resolvido? Portanto, nota-se que a amizade de uma década é incapaz de oferecer uma dose mínima de argúcia para conter os raios corrosivos de Edu ou acordar o senador de seu transe ideológico. Em nenhum momento, ele e Assis, seu assistente, juntam as peças e percebem as artimanhas do protagonista. Pelo contrário, ambos agem feito loucos, incapazes de perceber as suas falhas, considerando toda prova contra Edu como um ataque pessoal e de ameaça à máquina pública. Assim, como símbolo da velha política e dessa casta de sanguessugas que a série buscou evidenciar para corroer a imagem do Estado, o final do senador é condizente com a proposta. Em um último ato de tolice, ele salvou Edu de helicóptero e emprestou o seu sítio em Lagos para que ele pudesse fugir. A mídia acabou descobrindo que três mulheres foram mortas nesta cidade e, posto que Edu usara seu revólver (dado a ele pela esposa do senador) para matar um policial, sua carreira estava arruinada.

O sistema jurídico também não saiu incólume da avalanche de raios corrosivos. Assim que Edu é capturado em Lagos e levado para a prisão, o seu julgamento se inicia no dia seguinte. A evidência disso é que durante a audiência, começaram a chegar as notícias de que os corpos das vítimas ainda estavam sendo encontrados, além de Nelson estar recebendo as provas dos crimes (a arma que Edu atirara no policial). A velocidade com que o tribunal foi formado é irreal e quase todos os seus elementos parecem ter sido construídos apenas para elevar a potência de Edu perante os seus adversários: não há quase provas contra ele (pois não fora dado tempo o suficiente para serem incluídas); ele parece ser o único ser humano racional, calmo e experiente no ambiente; a presença da filha do delegado Dias, sem que ele soubesse, serviu para desmoralizá-lo em público; e o promotor Silvio e Vera perdem a compostura e se descontrolam, o que faz com que pareçam perdidos e despreparados para suas funções. Ao término da audiência, Edu dá um depoimento praticamente decretando a “obviedade” de sua inocência, carimbando as suas qualidades superiores e chancelando a deferência: nenhum dos profissionais que possuem anos de experiência à sua frente foram capazes de oferecer um freio sequer à sua suprema natureza para reinar em dois dos três poderes democráticos.

Para encerrar, o senso de representação acurado e implacável de Edu pode ser testemunhado nas situações mais estarrecedoras da série, as que envolveram a massa de indivíduos incrédulos quanto aos crimes de Edu. De maneira geral, com uma noção completamente divorciada da realidade histórico-cultural do país, eles não carregam um pingo de dúvida na sua inocência, a ponto de uma multidão de pessoas aparecer nos portões da penitenciária para protestar contra a sua prisão. A cena suscita uma ideia de pertencimento, como se os súditos tivessem reconhecido seu verdadeiro líder e tivessem de brigar por ele. O ex-noivo de uma das vítimas inicia uma cruzada a fim de provar que Edu não era o assassino, empregando os seus esforços e concedendo entrevistas para jornalistas no intuito de criticar o trabalho da polícia. Convicto na sua insana percepção dos fatos, ele chega a criar uma espécie de petição online, gerando a turba de adeptos enlouquecidos e ávidos pela soltura imediata de um mero desconhecido, cuja situação apresentava-se substancialmente desfavorável em termos criminais. Afinal, de onde surgiu esse ímpeto irrefreado para defender o único suspeito dos crimes hediondos que pararam o país e cujas evidências estavam todas contra ele? A sequência é curiosa, pois exalta a posição crítica de que as massas são burras e desprovidas de argúcia, e que são as responsáveis pela situação caótica do país, pois apoiam a “liberdade de criminosos”.

Estes são os efeitos avassaladores da extensão discursiva materializada em Edu. Sua ideia e imagem precisam ser promovidas como uma opinião universal, isto é, auto-evidenciada pela naturalidade e amplitude com que é representada. Ao longo de todos os episódios, percebe-se que a sua consciência compreende o mundo exterior de modo diverso: as suas noções do que existe e de que é possível se tornar uma figura política poderosa em paralelo aos crimes em série, demonstram uma soberba condizente apenas num cenário onde seus oponentes sejam completamente ineptos nas suas profissões. No final, até mesmo sua prisão pelo FBI carrega potentes mensagens. Ironicamente, quando a mídia passou a noticiar que ele era procurado nos EUA por quatro crimes, como num passe de mágica, os personagens caíram em si e ninguém mais ousou tentar inocentá-lo, pois a informação fora dada por uma instituição internacional e que, portanto, não faz parte dos aparelhos a serem corroídos. Na última cena, Ray o avista sendo levado pelos agentes ao aeroporto. Edu olha para ela e abre um sorriso de satisfação, pois mesmo diante de uma provável pena de morte, ele sabia que conseguira realizar a sua missão: sobrepujar os aparelhos estatais, arruinar seus oponentes na esfera político-ideológica, disseminar a sujeição pelo horizonte social e, por tê-la engravidado, plantar a semente de sua ideia para germinar no ventre dela e garantir a sua eterna reprodução. Sua vitória estava completa.

[1] A trama e as curiosidades estão no Memória Globo, disponível em: http://glo.bo/3RrbRVw.

[2] Theodore Robert Bundy, o Ted Bundy, notório serial killer norte-americano que confessou trinta homicídios de 1974 a 1978, serviu para a montagem do personagem psicopata de Bruno Gagliasso.

[3] Segundo o Extra. Disponível em: https://glo.bo/3fjr6zJ.

[4] Um exemplo de personagem-chave esquecido foi Ivan, defenestrado por Edu durante um coquetel. O objeto é o isqueiro de Edu. Ambos serão melhor abordados adiante.

[5] É senso comum a existência de inúmeras relações de corrupção que permeiam o Estado brasileiro. No entanto, ao representá-las em paralelo às excessivas demonstrações de incompetência e inépcia (estas bastante injustificáveis), o resultado torna-se um poderoso composto ideológico e nocivo de pessimismo e resignação.

[6] Neste artigo, considero o neoliberalismo “uma teoria das práticas político-econômicas que propõe que o bem-estar humano pode ser melhor promovido pela liberação das liberdades e habilidades empresariais individuais dentro de uma estrutura institucional caracterizada por fortes direitos de propriedade privada, mercados livres e livre comércio. O papel do Estado é criar e preservar um quadro institucional adequado a tais práticas. O Estado tem que garantir, por exemplo, a qualidade e integridade do dinheiro. Deve também estabelecer as estruturas e funções militares, de defesa, policiais e jurídicas necessárias para garantir os direitos de propriedade privada e garantir, pela força, se necessário, o bom funcionamento dos mercados” (HARVEY, 2007, p.2).

[7] Outros jovens completam esta visão: Ivan, seu amigo de faculdade, investiga o caso da documentação e é o único a descobrir que Edu é culpado; o filho do senador, Otto Veiga Junior, é um garoto lúcido, mais maduro e racional que o pai, percebendo logo suas falhas em relação ao Edu; a filha do delegado, Tatiana, embora seja seduzida por Edu e fique cega diante de suas ações criminosas, é esperta a ponto de enganar o pai e a mãe em mais de uma oportunidade.

[8] A única vítima de Edu que cruzara o seu caminho profissional e significou uma ameaça aos seus planos foi o Ivan e, mesmo assim, sua morte foi esquecida pela série, deixando de ser investigada pela força policial ou considerada minimamente estranha, como será desenvolvido adiante.

[9] O policial Nelson, repetidas vezes faz piadas com os argumentos de Vera ou presume-os como algo insano, sem fundamento, apesar de ele não ter o menor conhecimento na área. Outra policial apresenta o mesmo comportamento.

[10] Por meio desse levantamento de dados eles não teriam descoberto sua mudança de nome e a sua vida nos Estados Unidos? Ademais, uma futura vítima fazia ligações para o GAV e a Vera foi a única que percebeu uma correlação, os outros policiais foram incapazes de juntar os pontos.

[11] Quando a personagem Vera fica sabendo do envolvimento de Edu nos crimes cometidos nos Estados Unidos, ela afirma: “vale lembrar que na Flórida tem pena de morte”. E em outra cena, diz: “só lá ele vai conseguir pagar pelos crimes que cometeu, não vai ser aqui”.

[12] Quanto a esse detalhe, é possível fazer um questionamento: trata-se de um erro de estrutura dramática ou apenas mais um indício dessa descrença na capacidade e na competência da classe política? E quanto à investigação policial, quando finalmente tiveram provas concretas de Edu e ele teve o rosto revelado na mídia, ninguém da polícia ou até mesmo entre os jornalistas, teria descoberto essa informação? Ninguém na internet ou conhecidos nos EUA? Deve-se ressaltar que o rosto de Edu estampou capas de jornais impressos e online.

[13] Em outro momento de tolice, o senador, desesperado, atira no candidato da oposição, acertando a pasta que ele carregava e que continha o dossiê que o arruinaria politicamente. Depois, ambos os candidatos chegaram a um acordo de não prestar queixas. Por que esse acordo? Não seria a vitória política mais fácil da história para o seu adversário?

0 0 votos
AVALIAÇÃO
Inscrever
Notificar
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários