
Naquele grandioso reino de outrora, nasceu um príncipe predestinado a entrar para a história. Seu nascimento foi marcado por uma festa memorável, para a qual diversos convidados de reinos longínquos vieram receber e fazer as necessárias honrarias. Seu pai, embora ainda jovem, contraíra uma grave doença que poderia matá-lo a qualquer instante. Logo, a notícia de que seu filho nascera com uma saúde de ferro foi bastante comemorada, pois a linhagem estaria assegurada por mais um longo tempo.
Taryan cresceu tendo que aprender e dominar as artes e os ofícios da realeza muito depressa. Aos nove anos, infelizmente, a terrível notícia veio. Seu pai morrera dormindo, deixando todo o reino e os seus súditos para ele. A cerimônia de coroação foi marcada por muita tristeza, culminando na não tão intrigante pergunta de um dos conselheiros ao futuro governante – “Majestade, qual o seu primeiro decreto?”.
O pobre rei-garoto, apesar de ter sido instruído sobre o seu poder, não sabia bem o que isto significava. Desconhecia as suas opções e se deveria decidir ali, naquele momento, ou se poderia esperar. Pego de surpresa e com um enorme peso e dor no coração, ele disse: “meu primeiro decreto é que o único sentimento seja o de alegria! Quem for pego sentindo-se infeliz, triste ou chorando, será decapitado!”. Sim, naqueles tempos a moral vigente era bem estranha e reprovável. O povo ficou horrorizado e tratou logo de acatar o decreto do rei. Até os mais sentimentais engoliram o choro e secaram as lágrimas. O salão ficou em total silêncio.
Dias se passaram e podia-se ver a alegria retornando a todos os cantos do reino. Dos mercadores na praça aos marinheiros nas docas, as gargalhadas estavam presentes. Dos mendigos e miseráveis aos altos escalões do exército, as piadas proliferavam. Entre crianças, adultos, velhos, homens e mulheres, as conversas eram regadas a risos e manifestações de felicidade. Familiares perdiam a vida e todos riam, pessoas não tinham o que comer e isso virava um festival jubilante de risadas, mulheres eram espancadas e violentadas e os vizinhos, quando ficavam sabendo dessas atrocidades, não paravam de gargalhar.
Eles podiam, simplesmente, deixar de rir e ficar sérios. Não havia proibição quanto a isso. Contudo, o medo de ser decapitado era tanto que o povo preferia não dar chance ao azar e preferiram cessar de vez as conversas sérias. Até porque podiam se deixar levar pela situação e a seriedade escalar para a raiva, o que, rapidamente, atingiria os níveis perigosos da tristeza. Então, quando uma situação não era engraçada, o melhor era forçar a risada e eliminar quaisquer chances de ser pego. E foi assim que o reino de Taryan ficou conhecido na História como o reino mais triste e infeliz do mundo, cujos habitantes são facilmente detectados pelas suas grotescas risadas falsas que soam como se escondessem um vazio ou uma interna e profunda dor. Eu já conheci uns três taryanos, e vocês?
(Texto escrito em meados de 2007)