O Homem Que Comprava Simpatia

Poderia começar dizendo que esta história aconteceu há muito tempo, mas sinceramente, tanto faz. E onde ela se passa também pouco importa, portanto imaginem o lugar e o tempo que lhes aprouver. O importante é falarmos sobre Joe e o fato de ele ter nascido com uma condição grave. Apesar de suas outras qualidades, desde a juventude, Joe não conseguia de modo algum ser simpático. Nas rodas de conversas, olhava as pessoas, tentava esboçar um sorriso durante uma piada ou levantava os braços na tentativa de abraçá-las, porém algo sempre o freava. Quando conhecia alguém, jamais estendia as suas mãos para cumprimentar e se fosse contrariado, sua resposta era logo ríspida, grosseira e mal educada.

Um dia, ele teve uma estranha ideia. Por ter acumulado muito dinheiro com o trabalho (sem amigos e sem namorada, os seus gastos eram mínimos), resolveu sacar enormes quantidades de dinheiro e andar com as notas no bolso, preparando-se para comprar a simpatia das pessoas. No início, percebeu que elas ficavam com o pé atrás, suspeitando das suas intenções. Porém, rapidamente, passou a acumular litros e mais litros de simpatia (sim, simpatia é medida por volume). E o mais incrível era seu preço baixíssimo. Ávidos por conseguir uns trocados a mais, todo mundo aceitava se desfazer de grandes porções de suas simpatias. Em pouco tempo, imbuído de novas cargas simpáticas, Joe passou a esboçar uns sorrisos, cumprimentar pessoas estranhas, agradecer pelos favores, etc. Depois de um tempo, chegava em eventos sociais e roubava a cena; nas ruas, ele era parado para que pudessem ouvir as suas estórias e as festas dos amigos e conhecidos eram organizadas com a obrigação da sua presença. Enfim, Joe havia adquirido a energia visível e contagiante dos simpáticos. Além disso, ao mesmo tempo que passava a ser adorado e, com isso, ganhava mais dinheiro, ele ia se tornando o único admirado nos seus círculos sociais.

Inebriado pelas mudanças, ele acabou perdendo o controle e comprou toda a simpatia da sua cidade. Depois, do seu estado e, anos mais tarde, de todo o país. Alugou terrenos e galpões gigantescos para acondicionar os milhões de litros de simpatia. Este foi um terrível erro. Por ter comprado tudo, ninguém mais a tinha. Logo, não havia mais conversas alegres, delicadas, sutis, interessantes. As pessoas passaram a se tratar mal, responder com ofensas, reclamar da atitude uns dos outros. Isso porque a simpatia está diretamente relacionada com empatia. Enquanto a primeira atrai os indivíduos, a segunda os põe um no lugar do outro, fazendo-os experimentar e compreender os sentimentos e aflições que lhes pareciam invisíveis. Assim, desprovidos dos ingredientes cruciais para a essência humana, o convívio social tornou-se impossível.

Algumas pessoas tentaram comprá-la de volta para salvar a sociedade, mas Joe, infelizmente, havia trancado e escondido todo o seu estoque. Entretanto, graças a essa pequena resistência, uma campanha foi realizada e Joe passou a ser visto como um estranho, um ser indesejável. Como o assunto não era dinheiro e riqueza foi muito fácil convencer as massas de que a sua infelicidade era gerada pela ausência de algo que somente Joe possuía. O que ele havia conquistado e tinha para oferecer aos demais, passou a ser visto com enorme repulsa, como um egoísmo que atrasava o desenvolvimento humano e expunha as mazelas da sociedade. E Joe, sem saber como remediar o problema (era muito mais simples do que parecia, como vocês podem imaginar), caiu em profunda depressão e ficou recluso em sua residência.

Com o passar dos dias, o homem mais simpático do mundo chorava todas as noites, definhava na cadeira de balanço, pedia para morrer e tinha por companhia apenas as suas lágrimas e lembranças, enquanto lá fora, o mundo afundava em um misto de caos, hostilidade e insolidariedade. Até que ele morreu, bem velho, rabugento, infeliz e solitário. No entanto, uma surpresa veio com a leitura do testamento. Joe decretou que separassem toda a sua simpatia armazenada em porções pequenas e que elas deveriam ser entregues a alguns sortudos, escolhidos aleatoriamente, e com a condição de jamais vendê-la ou trocá-la. Poderiam apenas passá-la adiante, gratuitamente. Por conseguinte, foi assim que a simpatia se tornou algo tão precioso e raro na nossa sociedade. Quem não a possui, sofre com a ausência de um dos elementos mais importantes para a felicidade e o bem-estar pessoal, enquanto outros a passam de pai para filho, compreendendo, no fundo de seus corações, o tesouro que possuem.

(Texto escrito em meados de 2014)

0 0 votos
AVALIAÇÃO
Inscrever
Notificar
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários