Há um lugar secreto não muito “longe” de onde vivo. Ninguém sabe nada sobre o seu local exato. Diz-se que para chegar lá, deve-se seguir uma trilha específica até a bifurcação com um ipê roxo gigantesco e virar à esquerda. Depois, deve-se percorrer quilômetros de infindáveis milharais até uma velha cabana de palha e virar à esquerda novamente. Por fim, deve-se continuar pelas margens do rio, atravessar a pequena ponte de madeira e, em vez de optar pelo caminho sedutor das flores e pedras coloridas à direita, deve-se encarar a pesada escalada pela montanha à esquerda. Muito fácil de decorar: “sempre à esquerda”.
Neste lugar, diz-se que os males da alma e do coração são curados e se obtém respostas para todas as perguntas. O ambiente é mágico e reconfortante e ali só podem entrar os que verdadeiramente procuram uma cura. Pode ser uma cura para qualquer coisa que julgam necessitar de uma cura. Nada de charlatães ou enganadores visando utilizá-la para o enriquecimento pessoal, apenas pessoas bem intencionadas ou até ignorantes acerca do que significa ser propriamente uma cura. Há também um lago situado nas proximidades que, ao ser fitado por longas horas, reluz e transmite a imagem da pessoa amada, a qual surgirá e passará, a partir daquele instante, a retribuir o tórrido amor.
Se bem me lembro das informações, há também uma cachoeira de águas cristalinas, na qual, ao se banhar, instantaneamente, adquire-se a beleza que tanto se almeja, mesmo às custas de se tornar uma mera réplica de outras belezas tão comuns e sem graça. Comer as frutas diretamente de seus pomares coloridos e apetitosos transforma os visitantes em seres mais inteligentes, mais seguros de si e mais felizes, embora os seus efeitos a longo prazo os façam perceber que um maior esclarecimento sobre o mundo traz também a melancolia dos sábios e a tristeza pela compreensão de que o tudo pode se transformar rapidamente em nada (e vice-versa) se visto por outros ângulos.
Por várias gerações, muitos dos que ficaram sabendo desses boatos procuraram pelo lugar secreto. Aventureiros e medrosos, homens e mulheres, jovens e velhos, incrédulos e esperançosos morreram tentando encontrá-lo. Semana passada, retornando de uma viagem incrível, onde curei os males da alma e do coração e vivenciei um esplêndido amor temporário, percebi que estava diante do ipê roxo. Dali, era só seguir as indicações que incontáveis indivíduos dariam as suas vidas para conhecer. Mas o que eu mais queria era retornar, descansar e tomar uma cerveja com os amigos. A viagem me fez perceber que eu não desejo cachoeiras cristalinas, pomares deliciosos ou lagos que conjuram a mulher amada sem a sua devida vontade e aprovação. O que eu desejo, acho que consegui realizar. Em vez de descobrir o lugar secreto, optei por manter em segredo o descobrimento do meu lugar.
(Texto escrito em meados de 2008)
