O Silêncio

O barulho é incômodo. Ninguém gosta de ficar em lugares barulhentos por muito tempo, por mais que se consiga tolerá-lo. Ele invade o sistema nervoso, passa a comandar as suas atitudes e anseios, estressa, perturba, aniquila os seus pensamentos, retira-lhe a calma e o prazer de um merecido descanso. Barulho é como o melhor caviar, deve ser servido e degustado em pequenas porções.

Eu costumava ostentar o barulho. Para falar a verdade, até o desejava diariamente, consumindo altas doses de decibéis insanos e sons aflitos. Mas isso era em outra época, num momento da vida que eu precisava de respostas e elas não vinham. Foi uma fase complicada, na qual o barulho era uma mórbida companhia que supria uma ausência silenciosa visível. Ele me definia enquanto indivíduo e pintava a minha realidade em meio às suas notas desafinadas.

Com o tempo, fui sossegando, acalmando as minhas ansiedades e mudando o meu comportamento, até que me tornei um ser mais calmo e passivo. Mas, não se engane! Eu ainda escuto a música da vida em volume alto e ajo com base na frenética escala de tons estrepitosos, porém, com uma postura diferente aos tipos de som que me permito ouvir. Até mesmo do silêncio, que era como um inimigo e hoje em dia tornou-se companheiro. Ficar em paz comigo mesmo é um dos melhores sentimentos do mundo e passei a prezá-lo de forma até bem rígida.

Entretanto, o que devo fazer quando o silêncio machuca os ouvidos e quase chega a estourar os tímpanos? O que fazer quando o silêncio que era para estar curando começa a danificar os tecidos auditivos da razão? E não adianta mais aumentar o som e nem buscar o barulho, este silêncio invadiu meus pensamentos, meu coração e minha alma. Impossível sufocá-lo com qualquer ruído, pois nas entranhas da minha mente, ele se tornou o núcleo da consciência. Meu deus, não estou conseguindo aguentar, estou ficando louco. Este silêncio é terrível, é ameaçador, o seu silêncio transforma paz em dor…

(Texto escrito em meados de 2009)

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