O Viajante

– Quem é você, viajante?
– Apenas a mais pobre das criaturas. Um ser que não se destaca na multidão nem tem brilho próprio, que só é lembrado quando lhe é dado uma responsabilidade e não consegue cumprir. Apenas uma criatura que somente na companhia de tantas outras de mesma insignificância, acaba se tornando simbolicamente digna e notável.

– Quem é você, criatura?
– Apenas um homem tentando encontrar o propósito para a sua vida. Um ser que já soube um dia caminhar de cabeça erguida, mas que sem conseguir satisfazer o desejo da maioria, hoje vaga pelo mundo, sem rumo, sem objetivos, sem esperança. Apenas um homem que tenta a todo custo ser validado, em vão.

– Quem é você, homem?
– Apenas um admirador das coisas boas e puras desse mundo. Um ser que sustenta em suas costas a culpa e as dores do mundo por não ter sido capaz de sacrificar o que mais ama em prol do bem estar alheio. Apenas um admirador que jamais conseguirá voltar ao seu próprio caminho.

– Quem é você, admirador?
– Apenas um aglomerado de ideias que não conseguem se concretizar. Um ser a ponto de explodir por causa de um sentimento profundo de tristeza, provocado pelo sufocamento da ignorância tão fatigante de ser sanada. Apenas um aglomerado tentando se dissolver em meio a um ambiente inóspito, pesado e hostil.

– Quem é você, aglomerado?
– Apenas um filho perdido. Um ser que acredita não estar vivendo na época apropriada, mas todas as anteriores também seriam erradas pelos mesmos ou ainda incontáveis outros motivos. Apenas um filho perdido, desolado pela sua inerente incapacidade de enxergar, melhorar e conquistar algo bom para si.

– Quem é você, meu filho?
– Pai, é o que estou querendo lhe dizer. Eu sou apenas um viajante!

(Texto escrito em meados de 2009)

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