RJTV e Ideologia: A Irracionalidade no Jornalismo, parte 1

“Sim, eu uso esse poder”, disse ele […], “mas sempre o faço patrioticamente, tentando corrigir as coisas, procurando os melhores caminhos para o país e seus estados. Gostaríamos de ter o poder de consertar tudo o que não funciona no Brasil. Dedicamos todo o nosso poder a isso”. […] “Se o poder é usado para perturbar um país, para destruir seus costumes, então não é bom”, disse Marinho. “Mas se for usado para melhorar as coisas, como fazemos, é bom. Acho que isso não vai ocupar muito a atenção da Assembleia Constituinte” (Riding, 1987, p.4).

O RJTV é um telejornal que vai ao ar pela emissora Rede Globo de Televisão, de segundas-feiras aos sábados, em duas edições; a primeira, às 12h, cobrindo geralmente eventos matinais e da noite anterior; a segunda, às 19:20h, retoma as notícias prévias e acrescenta certos desfechos. É responsável pela cobertura de todo o Grande Rio, Niterói, São Gonçalo, Baixada Fluminense e Região Serrana. Segundo o próprio site[1], é um telejornal direcionado para o cidadão, autodenominando-se como uma ferramenta comunitária que transmite as notícias mais relevantes da cidade ao mesmo tempo que presta diversos serviços à população. O telejornal conta ainda com a participação de especialistas, comentaristas e convidados, trazendo as suas perspectivas e conhecimentos sobre os variados acontecimentos.

Na semana analisada, do dia 3 a 8 de Junho de 2019 (12 edições do telejornal), foram ao ar 150 notícias, sendo 56 relativas à violência, 45 sobre política, 2 sobre economia, 3 sobre saúde, 18 sobre cultura, 8 sobre esportes e 18 sobre assuntos variados (fait-divers[2]). A metodologia para a categorização dessas notícias seguiu alguns critérios[3]. Os números baixos com relação à economia e saúde devem-se ao fato de diversas notícias terem um cunho político ou de violência mais explícito em vez de um foco específico em suas determinadas categorias, por exemplo, “Sem maternidade em Madureira” foi definida como política, já que envolve mais aspectos sobre a negligência do Estado para lidar com esses problemas do que esclarecimentos voltados para um auxílio popular na área de saúde; ou a “Falta de segurança no Hospital Lourenço Jorge”, definida como violência, pois mesmo reunindo uma crítica à prefeitura e a falta de repasse de verbas para a empresa de concessão, revela pessoas amedrontadas, sendo roubadas durante a noite. Além disso, é válido ressaltar que a segunda edição do programa costuma repetir várias notícias da edição anterior e, por conseguinte, mantive as mesmas categorias selecionadas em ambas as edições ao longo da semana.

Do material analisado, primeiramente, elas tendem a abordar assuntos envolvendo grandes autoridades da política no Estado do Rio de Janeiro, as quais possuem o máximo de impacto para muitas pessoas e para a sociedade, como é o esperado considerando-se as categorias de noticiabilidade. É evidente a quantidade elevada de notícias sobre crimes e polícia, incluindo milícia e bandidos/traficantes, pois a violência tem, de fato, bastante valor para o jornalismo televisivo, principalmente em uma das cidades mais turísticas do país. Mas não só isso, como poderá ser visto adiante, a violência se torna moeda valiosa na manutenção da visão de sua política editorial.

Para iniciar a análise, apesar do site informar que o telejornal se apresenta como uma ferramenta comunitária e de prestação de serviços (afinal, investigar, apurar, denunciar e revelar os problemas da sociedade é papel fundamental do jornalismo), o jornal não sugere elementos que apontem para um proveito da sua potência comunicativa e comunitária como um mecanismo de interesse público, de aquisição do conhecimento sobre a realidade do Estado, de denúncias fundamentadas nos problemas reais enfrentados pela população (junto às suas possíveis formas de correção), de instrução para a população acerca das dificuldades encontradas e de alimentar a vontade de aprender sobre o funcionamento das instituições cívicas[4]. Em grande maioria, o telejornal faz uso dos acontecimentos adquiridos do tecido da realidade social para a confecção de um programa que, ao invés de ajudar e orientar o público, coloca-o numa espécie de limbo sociojurídico (e político), engendrando a irracionalidade através de uma construção hábil das emoções que impossibilita uma visão real dos problemas, impede o esclarecimento sobre certas ideias pré-concebidas do imaginário social e bloqueia o conhecimento concreto para as mudanças sociais efetivas que são de interesse público.

Defendo que, por óbvio, não há um projeto consciente (os gatekeepers socializados participam univocamente na reprodução de uma perspectiva integrada com a política editorial), do contrário, o telejornal teria de se assumir como um paciente que sofre de uma aguda esquizofrenia jornalística. Logo, insisto na crítica quanto às suas estratégias de noticiabilidade, visto que em várias reportagens a informação é apresentada por prognósticos, isto é, através de avaliações superficiais dos fatos, por vezes sem bases concretas de apuração e sem as devidas declarações acerca de sua existência ou dos possíveis impactos. No caso das notícias sobre crimes e violência, por exemplo, não há uma separação dos fatos em categorias diferenciadas ou uma sinalização daqueles que acontecem por “falta de sorte”, coincidência ou meramente pelas ações solitárias de um ou mais indivíduos. Isto posto, cumpre indagar: por que o telejornal não relata a baixa frequência de um determinado evento violento isolado, apontando para o seu caráter incomum ou raro quando ele ocorre?

É prática comum e reiterada do telejornal aglutinar esses acontecimentos em torno de um tema único, o seu preferido – a violência no Rio de Janeiro. Não obstante, em conjunto com o sentimentalismo subcutâneo e desnecessário de suas narrativas jornalísticas, seja para impulsionar a dramaticidade da notícia, seja para gerar uma identificação ideológica, ambos os processos ajudam a retirar o caráter reflexivo dos acontecimentos. Com isso, mergulham os telespectadores em um estado de espírito irracional, estimulado tão somente pelas fortes emoções e tragédias, contribuindo para a desinformação, algo bastante distante de uma atividade jornalística que se autodenomina uma “ferramenta comunitária”. Com isso em mente e visando ilustrar esses pontos, irei expor duas notícias sobre a violência e uma sobre o fechamento de uma biblioteca, as quais elucidam mais concretamente a pauta editorial e político-ideológica do jornal.

1) Mulher é assassinada em ônibus no Campinho: no dia 5 de Junho, o RJ 1 anunciou a morte de uma mulher, Luzimar de Oliveira, numa tentativa de assalto a ônibus às 4:30 da manhã, no Campinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro (duas pessoas ficaram feridas). Os bandidos chegaram no ônibus anunciando o roubo e dois policiais presentes reagiram. O primo dela, Alcemir Pereira conta como recebeu a notícia. Em seguida, o repórter explica: “o motorista contou que os bandidos estavam armados e que eles entraram no ônibus no ponto anterior […] como se fossem passageiros, pagaram passagem, mas quando cruzaram a roleta, anunciaram o assalto. Dois policiais militares à paisana reagiram e teve tiroteio. […] Muitos passageiros conseguiram correr, mas três acabaram baleados. […] Os bandidos fugiram e abandonaram uma faca e uma arma de brinquedo apreendidos pela polícia”. Em seguida, ele mostra cenas captadas por uma empresa de ônibus que registrou cinco assaltos naquela mesma madrugada. O primo retorna para dizer que ela deixou marido, dois filhos e um casal de netos que “não terão mais a avó para levá-los à escola”. De volta ao estúdio, Mariana e Fernando Veloso analisam os dados do Instituto de Segurança Pública. Os números para maio de 2019 revelam uma redução do homicídio doloso (21%) e de roubos de rua (12%), com aumento das mortes por intervenção de agentes do Estado (8%). Segundo ele, “a tendência de queda está se firmando, se consolidando […], o que representa quase 580 vidas poupadas. […] E foram quase seis mil veículos roubados a menos”.

No mesmo dia, o RJ 2 anunciou que “o número de assaltos a ônibus vem aumentando muito no Rio”. Dos meses de janeiro a abril desse ano (ignoraram os dados de maio que apresentavam reduções significativas), houve mais de 5800 casos no Estado (5857), um aumento de 21,6%. […] No município do Rio foram mais de 3800 casos (3843), um aumento de 40,5% em relação ao mesmo período no ano anterior”. Em seguida, a apresentadora retoma a reportagem[5] sobre a morte de Luzimar: “A mãe e avó foi assassinada durante o assalto em Campinhos. […] Para a família, os amigos, Luzimar de Oliveira deixou um vazio que ninguém vai conseguir preencher”. A repórter repete a estória e comenta que no fim da tarde, uma das vítimas atendidas no Salgado Filho, Fabiano Santa Bárbara, afirmou que os bandidos não atiraram: “só os policiais“. Em seguida, menciona que o governador Witzel vai cobrar explicações e caso a ação seja contra os protocolos, todos os comandantes vão receber orientações para não repetir esse erro. Uma prima, o primo e a irmã encerram a matéria falando sobre a perda e a dor de sua partida. A apresentadora mostra números no telão: roubos em ônibus de janeiro a abril subiram em relação ao ano passado, 403% na região da Mem de Sá, 313% na Praça Mauá e 255% na Penha (não há indicação da fonte). Então, ela segue anunciando que uma linha da Baixada Fluminense fora assaltada sete vezes em quatro dias (também sem fonte). As imagens são as mesmas apresentadas na edição anterior do jornal.

No dia 6 de Junho, no RJ 1, Mariana Gross informa que a vítima será enterrada no cemitério de Realengo e a matéria seguinte retoma o número elevado de assaltos em ônibus, emendando com a repetição da mesma matéria sobre a morte de Luzimar. Diego Haidar entrevista William Tavares, um passageiro que todos os dias faz o mesmo trajeto e diz que não vê policiamento nenhum durante esse período. Um motorista há sete anos, que não quis ser identificado, fala que já sofreu cinco assaltos e sofre de medo (leia-se: menos de um assalto por ano para alguém que passa mais de oito horas diárias dentro de um ônibus). No RJ 2, o apresentador Hélter Duarte revela a quebra do recorde histórico no número de roubos em ônibus num único mês (abril) na cidade do Rio de Janeiro, e que hoje fora enterrada uma vítima dessa violência (o que houve com o mês de maio?).

Para desvelar a construção dessa narrativa, é preciso um breve exercício de redação jornalística: houve um assalto a um ônibus, às quatro e meia da manhã, no Campinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Dois policiais à paisana (ou fora de serviço) resolveram reagir e entraram em luta corporal com os assaltantes. Disso resultaram tiros que atingiram dois passageiros e a vítima anunciada. Um dos passageiros revelou que os disparos vieram da arma do policial e que os assaltantes deixaram apenas uma faca e uma arma de brinquedo no local do crime. Por conseguinte, as autoridades darão continuidade às investigações a fim de se obter respostas concretas e responsabilizar os culpados. Mais informações serão dadas quando elas tornarem-se disponíveis. Fim. Esta é a notícia crua, retirada da massa fática ocorrida no ônibus e que estabelece os elementos principais do acontecimento.

No entanto, a partir deste relato inicial, todos os outros elementos passam a constituir um espetáculo político-ideológico que desnuda os interesses da política editorial do telejornal. O terrível acontecimento dentro do ônibus, responsável por vitimar a pobre trabalhadora, gerou frutos ideológicos bastante maduros com os quais a notícia foi sendo construída. Em paralelo com a exposição de dados estatísticos e imagens de assaltos a ônibus, roubos de veículos e homicídios (qual a relação com os outros tipos penais?), a informação veiculada transborda o acontecimento cru e passa a contribuir fortemente para aumentar a sensação de impotência e despreparo das forças policiais no combate à violência, visto que há uma enorme possibilidade dos tiros terem saído da arma de um policial. O acontecimento não é tratado como um evento em si, desprovido de conexões com outros, pois isso seguiria na contramão dos aparentes propósitos do telejornal[6], então ele é enquadrado em determinações prévias já organizadas a fim de virar uma notícia que amplia e reproduz ideias pré-concebidas e que em nada sugerem estar alinhadas com o interesse público.

Para exemplificar, ao término da primeira reportagem, Fernando Veloso poderia relembrar os telespectadores que, embora seja uma situação trágica, o caso é atípico. Além disso, o repórter pode incluir dados sobre a violência carioca, mas sem a omissão dos meses em que eles apresentaram reduções significativas e sem realizar a mágica da manipulação dos pontos percentuais. E mais, pode-se lançar um quadro abrangendo regiões específicas, onde os números confrontam ou validam as políticas públicas que estão sendo discutidas sobre esse problema (se elas não existirem, é mais um ponto a reforçar e alertar o público para cobrar as autoridades). Por exemplo, o fato ocorrido no Campinho pode suscitar uma discussão profícua sobre que medidas estão sendo tomadas para o local, se há projetos tramitando na Câmara e quem seriam os responsáveis e/ou quais seriam os motivos de não estarem cumprindo suas funções. Com isso, ter-se-ia uma visão ampla e concreta do fenômeno[7], capaz de mover os cidadãos na direção de uma mudança social efetiva.

Outro instrumento informativo poderoso, mas infelizmente perdido ou ignorado em meio às imagens sensacionalistas de familiares chorando a perda de entes queridos, é o de que as vítimas de assaltos a ônibus podem ser ressarcidas pelas empresas[8] e é da responsabilidade das mesmas a segurança dos passageiros, principalmente, no caso de roubo. E ainda, se posteriormente ficar comprovada a negligência dos policiais, o Estado é quem deve responder e ressarcir os danos. Nada disso foi sequer mencionado para informar os cidadãos. A população, tendo acesso ao conhecimento dos seus direitos, pode incidir no crescimento do número de ressarcimentos e, caso eles comecem a incomodar os bolsos das empresas, talvez melhores providências passem a ser tomadas a fim de garantir a segurança dos passageiros (e inclusive, melhores veículos). Não se trata de tarefa difícil, considerando que o telejornal possui um imenso arquivo e ainda o quadro RJ Móvel, responsável por catalogar e cobrar a realização e término de obras por todo o Rio e Grande Rio. Portanto, há potência comunicativa e informativa, mas ela não é empregada como ferramenta comunitária e pública.

É, de fato, bastante triste a perda de um ente querido, mas a narrativa do telejornal utiliza essa dor, as paixões e o sentimento de raiva como uma ferramenta irracional, pois elas se enquadram nas expectativas da sua política editorial ao retirar a capacidade de reflexão dos telespectadores sobre os eventos noticiados. Ela tenta a todo momento apontar para a insuficiência e o despreparo do Estado para lidar com a questão[9] como se isso fosse o único problema ou “fosse possível colocar dois policiais em cada ônibus que trafega pelas ruas da metrópole” (ironicamente, o trágico desfecho da triste notícia deveu-se exatamente à presença deles). O resultado é um combinado ideológico poderoso que ignora a imensa parcela de culpa das desigualdades sociais e reforça a ideia do Estado como uma instituição decadente, cujas soluções são ignoradas, obscurecendo as intenções alinhadas com o interesse público.

Para uma última consideração, por óbvio, o telejornal parte da massa fática de acontecimentos reais, levando em conta os altos índices de violência da cidade do Rio de Janeiro. Negar isso seria realizar uma crítica míope dos problemas municipais e estaduais. Assim, a análise recaiu sobre os elementos utilizados para a construção das notícias e como ela foi apresentada aos telespectadores. De modo geral, não houve quase elementos racionais atrelados à informação; quando houve, no caso da explicação de Fernando Veloso acerca da redução nos índices do mês de maio[10], foi logo cortado e evitado nas edições posteriores, enfatizando-se porcentagens estratosféricas em regiões da cidade escolhidas a dedo para subsumir o acontecimento ao problema mais amplo da violência (e sem a indicação da fonte). Em suma, observa-se que a notícia foi apresentada como uma mercadoria cujas peças vieram incompletas de fábrica. E uma vez sendo incapaz de montá-la por inteira e contemplá-la em sua totalidade, o que se presencia é um objeto quebrado, desfigurado, fragmentado, amórfico, do qual resultam apenas sentimentos de incompreensão, tristeza e ódio. Essa excessiva carga dramática do telejornal e a sua irracionalidade intrínseca às emoções habilmente produzidas pelo espetáculo das vítimas, unem-se para formar uma imagem pálida e fosca da realidade social, transformando a atividade jornalística numa quimera pseudo-informativa, carregada da legitimação de privilégios e interesses econômicos particulares, os quais nos cega para as discussões racionais capazes de trazer mudanças sociais mais efetivas. Quando a notícia termina, tornam-se perceptíveis os ecos de uma profunda sensação de medo, de que vivemos em meio ao caos e estamos largados à própria sorte. Contudo, os olhares mais atentos compreendem a verdadeira intenção por trás deste projeto.

[1] Disponível em: http://bit.ly/2G4Q97Z.

[2] Os fait-divers, em português, “fatos diversos”, é uma expressão jornalística utilizada para designar os fatos, acontecimentos, assuntos, que não se encontram nas categorias tradicionais, tais como economia, política, esportes, etc.

[3] Dividi as categorias em i) Violência: notícias sobre tiroteios e pessoas feridas, balas perdidas, mortes de bandidos e/ou policiais, confrontos e operações da polícia, casos envolvendo a milícia, assassinatos, assaltos e roubos, sequestros, etc.; ii) Política: notícias referentes às prefeituras, como o processo de impeachment de Marcelo Crivella, negligências do Estado, engarrafamentos, obras públicas, escândalos envolvendo políticos, venda de edifícios públicos, laudos técnicos, etc.; iii) Economia: notícias sobre taxas de desemprego, assuntos sobre o Tribunal de Contas da União, etc.; iv) Saúde: notícias sobre doenças, como o H1N1, dengue, campanhas de vacinação contra a gripe, etc.; v) Cultura: notícias envolvendo espetáculos, shows, peças de teatro, escolas de samba (incluindo o escândalo da LIESA), lançamento de obras de artistas, abertura de museus, etc.; vi) Esportes: notícias sobre quaisquer modalidades esportivas e os seus respectivos atletas, etc.; vii) Variados: notícias sobre mortes de pessoas famosas, acidentes de trânsito, velórios, campanhas em dias especiais e quaisquer outras que não se encaixem nas anteriores.

[4] Quando as notícias não têm cunho político ou de violência evidente e concreto, elas tendem a abordar com mais clareza o acontecimento, apresentando importantes perspectivas diferenciadas, capazes de aumentar o seu teor informativo. Em outras palavras, quando um acontecimento carrega ou apresenta elementos políticos reduzidos (ou praticamente inexistentes), pode-se testemunhar toda a potência jornalística, informativa e comunitária que se espera do telejornal.

[5] A matéria conta a vida de Luzimar, faxineira, que saía de madrugada todos os dias para ajudar no sustento da família. Lucilene Silva, sua irmã, fala “que ela estava feliz, que havia começado a trabalhar, que ela era a base de tudo”.

[6] Há alguns anos o jornalismo carioca (especialmente esse telejornal) vem documentando o número de policiais mortos na cidade. Porém, espera-se que a contagem, como um serviço de interesse público, leve em consideração as mortes provocadas durante seu turno de trabalho e diretamente pelo confronto com bandidos, em casos de assassinato ou até mesmo por “queima de arquivo”. Afinal, esses números poderiam revelar preciosas informações sobre a política de segurança pública. No entanto, observamos exemplos estapafúrdios, como a inclusão nessa contagem de um PM que havia discutido com outro em um bar e fora baleado pelas costas por motivo de ciúmes da esposa (RJ 2, 6 de Dezembro de 2018). Outro exemplo que nos leva a questionar o propósito dessa contagem é o de uma discussão entre dois policiais no trânsito, cujo resultado foi a morte de um deles porque o carro de um estava na frente do carro do outro. Disponível em: https://glo.bo/2MCV4C7.

[7] É deveras improvável que os governantes “errem” em todos os âmbitos da esfera pública. Portanto, se houve reduções nos índices de violência em algum lugar por decorrência de políticas públicas eficientes, por que não divulgar? Essa decisão não deve ser vista como pró-partidária, mas como uma maneira dos eleitores se informarem sobre as estratégias que geram frutos benéficos. Graças a isso, os cidadãos de outros municípios poderiam cobrar a mesma fórmula, alcançar os mesmos resultados e toda a população sairia ganhando (mas este não parece ser o caminho informativo do telejornal).

[8] “De acordo com o art. 734 do Código Civil: ‘o transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade’. Pode-se concluir que o transportador assume uma obrigação de resultado. Caso o passageiro não chegue ao seu local de destino são e salvo, com a sua bagagem, estará caracterizado o inadimplemento contratual e a responsabilidade pelo dano causado”. Disponível em: http://bit.ly/2L84rGJ.

[9] Compreendo os processos de corrupção e descaso que vêm assolando o Estado do Rio de Janeiro há muitos anos, inclusive, com quatro ex-governadores presos e outros respondendo processos por corrupção. Porém, a imputação da responsabilidade somente às autoridades públicas (cobrindo com um véu ideológico os interesses econômicos tanto das empresas de ônibus quanto da própria emissora de televisão) nos distancia de maneiras concretas da população de enxergar os problemas sociais e, por consequência, chegar às soluções.

[10] “Em cinco meses [janeiro a maio], Brasil registra 17,9 mil mortes violentas; queda é de 22% em relação ao ano passado”. Apesar de ter ido ao ar, no G1, somente em julho, acredito que esses dados do Monitor da Violência foram utilizados como base para a explicação de Fernando Veloso. Mais adiante, na matéria, percebe-se um dado estatístico de extrema importância para o estado do Rio de Janeiro (e para o país), que jamais deveria ter sido descartado pelo telejornal: “a tendência de queda nos homicídios do país foi antecipada pelo G1 no balanço dos dois primeiros meses do ano, que apresentaram redução de 25% em relação ao mesmo período do ano passado, e no balanço das mortes violentas de 2018, que teve a maior queda dos últimos 11 anos da série histórica do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com 13%”. Optei pela escolha de uma notícia transmitida por um veículo de comunicação pertencente ao mesmo conglomerado de mídia que o RJTV. Disponível em: https://glo.bo/2ZovqaQ.

RIDING, Alan. “Rio Journal: One Man’s Political Views Color Brasil’s TV Eye”. In: The New York Times, 12 jan., 1987.

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